Cinderela sem Sapatos...


quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Chuva oleosa



Em busca da pele
Embebeda
Nas folhas é leito
Deita-se ao peito
Embala a raio
Junto ao orgasmo
Pós-tempestade!
Decifra a chegada
De quem se esconde
Atrás da moita...


Foto: Marta Orlowska

A cerca



Caminho estreito `a janela segue feito trilha.
Quem por ele passa 
Reflete-se nas vidraças como gigantes
Ou fantasmas!
De dentro, entre as flores, na borda de madeira,
A imagem se aproxima enorme,
Assim como uma poesia inacabada.

Observo cada movimento e em pequenos olhares
Decifro o dia e quem nele me habita.
A certeza me acerca e me rendo. Inesperada, eu chego à fuga!
Desisto por saber que aqui pertenço. Não preciso correr mais.
Minhas linhas foram traçadas e nelas trilho.

Foi tudo um sonho...


(Inspirada nas palavras de Takashi Hiraide no livro: The Guest Cat)

Imagem: Roberto Lubanski

Carta na manga



Que blefa e dribla
Sem copas
Com paus
De ouros
Espadas
Vinga o sol que faz a noite
Menos fria...

Puxa a tolha sem tirar as cartas
Joga o ar ao desafio
Desafio sem perdas?
Eu digo!
Inevitável, meu caro amigo...

Puxa uma carta da manga
Para os dias sem fervor
Para a estrofe sem poesia
Para a boca sem beijo
Para o rei sem reinado
Para o amor sem abrigo
Para a pergunta sem resposta
Eu digo!
Guarda uma carta na manga, meu caro amigo...
Ha' de precisar um dia!


Foto: Web- autoria desconhecida
Entre fases 
Crio frases
Pontuo o vago
Desperto o lento
Apresso o vento
Vergasto a lua
De mim - a fala
De tu - a letra
Entre nós
Tudo poeta-se

Refúgio



Vi meu rosto em várias faces fora do lugar.
Vi meu olhar no fundo de cada olhar.
Vi meus pés no chão de cada um sem chão.
Vi minha fome em cada pão.
Vi minhas mãos postas pelo teu chão.
Vi teu coração preso em várias mãos.
Vi teu mundo decapitado sem noção.
Vi teu nome no meu nome.
Vi teu gesto no meu gesto.
Vi teus olhos nos meus olhos.
Vi todos vocês, menos todos nós.
Vi portas e janelas no vazio do teu porão.
Vi sorrisos sem alegrias.
Vi dores sem remédio.
Vi o maior desamor.
Vi teu maior amor.
Vi quem não se despediu de você.
Vi tudo que nunca imaginei ver.
Vi muito menos do que você viu.
Vi o que não deveria ter acontecido.
Vi... Vi... E vi... Ceguei-me diante dessa impune escuridão.
E não vejo perdão.


Imagem: Tumblr